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Não adianta, felicidade é um estado de espírito… Eu me sinto feliz, apesar de às vezes enfrentar situações que desafiem esse meu estado a ponto de quase eliminá-lo. Mas tenho motivos para isso, estou estudando minha vida e as coisas estão melhorando muito. Quanto mais ferramentas adquiro, mais forças adquiro em mim mesma e os outros vão ficando menores na minha existência. O que é importante é que estou à procura e tenho tido encontros quase todos os dias…

Conversando com uma amiga esses dias, me lembrei de alguns momentos de infância e voltei a comentar sobre o jeito de viver dessa criançada de hoje em dia.  Nessa nossa contemporaneidade pós-moderna, para ser mesmo redundante, criança usa cada vez menos a imaginação. Tudo em torno da criança é comprado nas lojas e muitas delas nem sequer viram um morango, apesar de tomar todos os dias o iogurte com esse sabor. São crianças de apartamento e supermercado.

Uma gurizada altamente super protegida que não pode sequer andar alguns metros do carro até a porta da escola porque os pais insistem em praticamente deixá-las dentro da sala de aula, de carro. E haja fila dupla. Entendo perfeitamente os argumentos sobre a violência que assola Salvador, mas convenhamos, é um exagero de classe média que atrapalha muitas vias nos horários de entrada e saída dos estabelecimentos.

Vamos ser cuidadosos, mas neurose faz mal até mesmo para a própria criança que cresce poupada da realidade em seu entorno. Que acha que qualquer guri que não pareça com ela é pivete e vai ameaçá-la de morte tentando levar seu tênis ou celular da moda.  Para muito além dos benefícios que alguns alardeiam sobre os jogos eletrônicos, essa criança dos dias de hoje anda muito automatizada.

Guardadas as sempre honrosas exceções, não sabe fazer trabalhos manuais, não mexe mais com papel de seda, papel cartão, cola, linha, pedaços de sucata e madeira. Eu me lembro muito bem que em épocas festivas como São João e Copas do Mundo, meu pai me chamava para ajudar a fazer bandeirolas do tipo pé de banco ou mesmo correntes feitas com tiras de papel de seda colorido. Mesmo que uma atividade inicialmente divertida, terminasse virando cansativa, afinal, poucas crianças pequenas conseguem se concentrar por muito tempo numa mesma tarefa, aquilo era marcante para mim, pois eu tinha criado alguma coisa.

A sensação de ver o papel colorido em folhas enormes, ser recortado, transformado em figuras geométricas e depois estendido com capricho no alto perto do teto de casa, era indescritível. Eu até hoje sei fazer arraia, como a gente chama aqui em Salvador, ou pipa, em outros lugares, sei fazer balões, sei fazer chapéu de soldado com folhas de jornal, aviõezinhos de papel e lembro que isso me distraía por bastante tempo. Volta e meia me pego fazendo dobraduras relaxantes.

Mas o que é que acontece hoje, em tempos de São João? Pais e mães vão às lojas, compram tudo pronto e só têm o trabalho – isso se não mandarem a assistente do lar ou a diarista fazer – de pendurar o material. Em tempo de Copa é a mesma coisa. Poucos são os que estimulam a garotada a fazer pinturas de camisa com as cores da bandeira nacional, inventar sua própria decoração e brincar de imaginar mesmo. Será que é porque dá trabalho? Despende-se muita energia nesse serviço?

Porque com certeza sai mais caro e bem menos divertido fazer as coisas com as próprias mãos. Se um dia eu tiver um filho ou uma filha, ele ou ela com certeza vai aprender a fazer trabalhos manuais porque isso trabalha a imaginação, trabalha a paciência, ensina regras e ainda melhora a coordenação motora. Praticidade demais, às vezes, só atrapalha.

Eu sou mesmo diferente, sabia? Tem coisas que eu não entendo como funcionam e me convenço diariamente que isso ocorre porque eu tenho um modo diferente de pensar nas coisas. Por exemplo, em conversas recentes, o assunto relacionamento veio à tona. Eu não sou nenhuma especialista no tema, mas vivo uma história longa que atravessa uma crise séria, então alguma experiência tenho para falar disso.

Não me acho romântica, eu acho até que não existe um homem lá fora seja onde for, esperando por mim para ser meu príncipe. Mas ter um relacionamento é muito difícil, é complicado conciliar as diferenças, as necessidades e as ideias que cada um tem do que é uma história a dois. Eu tento, mas dá trabalho. Muito trabalho…

Então, voltando ao papo, veio à tona o tal do “ficar” que já faz algum tempo virou moda e contagia as mais diferentes gerações, desde a dos pré-adolescentes e adolescentes do século XXI até mulheres da minha geração. Não acredito nessa modalidade de relacionamento. Uma coisa é uma mulher ter liberdade para fazer o que quiser da vida e escolher o homem ou a mulher que melhor te apeteça. Outra coisa é descartar pessoas como se descartam objetos como sapatos, sacos de lixo ou cascas de banana.

Para mim, por mais que saiba a dificuldade que é construir uma história, ainda é melhor fazer isso do que ficar buscando incessantemente por alguma coisa que não está no outro e sim, falta dentro de si mesmo. Quero dizer que trocar de relacionamento como quem troca de sapato não necessariamente quer dizer que se está procurando a pessoa “certa”.

Pode ser isso, mas também pode ser preguiça e falta de capital emocional para investir numa história com alguém, atitude que exige desprendimento, capacidade de ceder, habilidade para controlar os próprios desejos e vontade de dividir experiências com o outro. Para mim, o tal do “ficar” é a sanha consumista chegando ao âmbito dos relacionamentos. Se você compra diversos celulares ao longo de um ano, porque não trocar de parceiro ao primeiro sinal de aborrecimento? Afinal de contas, estamos aqui para ser felizes, mas que felicidade é essa que se busca?

É diferente quando o relacionamento no qual se investiu muita coisa e muita emoção começa a dar sinais de falência. Aí sim, é hora de parar para refletir e verificar até que ponto vale a pena insistir numa situação que não produz mais prazer e felicidade. Somente estresse e decepção. Não paro de pensar nisso…

Gosto muito de futebol. Acho que é um dos esportes mais interessantes que existem pela sua imprevisibilidade e possibilidade de variação de resultados. No futebol, mesmo quando um time é considerado pequeno e sem tradição, ele pode se superar e vencer os mais difíceis adversários na base da raça e disposição. Isso acontece muito e eu já testemunhei casos assim.

Nesta Copa da África 2010, estou realizando um desejo antigo que é escrever sobre a atuação da seleção brasileira na sua jornada rumo ao hexa campeonato. As análises estão sendo publicadas no meu outro blog, o Conversa de Menina.

Quem tiver interesse, é só ficar atento às partidas da seleção e dar uma olhada lá no blog (as resenhas são publicadas logo após as partidas). Comente o que você achou, concorde, discorde, participe! Seguem os links das análises já publicadas até agora, quando o Brasil superou o Chile nas oitavas de final e parte para o confronto com a Holanda, na sexta-feira, 2 de julho.

>>  Leia o comentário sobre o jogo da seleção brasileira contra o Chile

>>  Leia também o comentário sobre o jogo da seleção brasileira contra Portugal


>>  Leia também o comentário sobre a partida do Brasil contra a Costa do Marfim

>>  Leia também o comentário sobre a partida de estreia do Brasil contra a Coreia do Norte

Eu gosto de coisas bonitas… Nas vezes em que me sinto pra baixo, meio mal, eu recorro às belezas que me fazem feliz. Uma música, uma fruta bonita e saborosa, uma roupa, um sapato, uma peça de design, uma obra de arte, são capazes de recuperar meu estado de ânimo. E quanto às obras de arte, tenho um prazer especial em admirá-las.

As pessoas me perguntam sempre porque eu gosto tanto de São Paulo. Sempre desconfiei que quando fosse para lá pela primeira vez, seria um caso de paixão à primeira vista e foi mesmo. Tirando a enorme dimensão daquela cidade, que realmente assusta quem é acostumado a dominar uma cidade como Salvador, me sinto muito à vontade naquele lugar porque lá encontro arte, em muitos lugares e foi lá que eu conheci um grande artista brasileiro que é Vik Muniz.

Sou apaixonada pelo seu trabalho, da mesma forma que a-mo as peças multicoloridas de Beatriz Milhazes, outra maravilhosa artista nacional. Apreciar suas obras me dá uma sensação de felicidade, me faz abrir aquele sorriso no rosto que remove parte dos pensamentos tristes e me faz querer começar de novo. Veja duas peças lindas que selecionei dos dois.

Ah, gente! Tô tentando retomar a blogagem. Vou me esforçar para colocar minhas reflexões diárias por aqui, ok? Um beijo e sejam bem-vindos de volta!

Mandalas, fragmentos e cores são a base do trabalho da carioca Beatriz

Trabalho magnífico com macarrão cozido e catchup. Vik Muniz

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Quem diria que Mary Quant, lá nos anos 60, inventaria uma peça de roupa capaz de despertar tanto ódio

Outubro de 2009, século XXI, São Bernardo do Campo, cidade do complexo ABCD, pedaço do Brasil dos mais pujantes dentro do mais pujante estado e que se auto-vangloria de ser cosmopolita e moderno – São Paulo. Setembro de 1968, século XX, Atlantic City, Estados Unidos – então a maior potência mundial, título que ainda ostenta embora ultimamente bastante alquebrado pela crise -, controverso episódio Bra-Burning, ou Queima de Sutiãs, para os íntimos. Apenas quatro anos antes, a estilista Mary Quant havia criado a ousadíssima minissaia.

Uma distância de exatos 41 anos entre os dois períodos destacados não foi suficiente, no entanto, para evitar a execração pública de uma jovem de 20 anos,  estudante de Turismo da Uniban, no “B” do centro industrial paulista, que resolveu ir à aula com um vestido curto, não tão mais curto do que qualquer menina de hoje em dia usa na rua no nosso ensolarado e calorento país.

O que pode ter acontecido, fico me perguntando, ao mesmo tempo em que relembro as cenas de uma faculdade em fúria, alunos agitados, de celulares em punho gravando o acontecimento e prestes a pular em cima da moça? Centenas de homens e mulheres engrossavam os gritos de “puta! puta! puta!”, enquanto ela saía da sala de aula em que havia se refugiado – na tentativa frustrada de aguardar que os ânimos se acalmassem – visivelmente constrangida e escoltada por cinco policiais. “Eles estavam possuídos. Fiquei com muito medo”, disse a jovem, depois do ocorrido.

No que pensavam as moças e rapazes que se concentraram de forma ameaçadora expressando sua opinião intolerante em relação a uma minissaia? Que nem era tão mini assim conforme se vê no vídeos postados no Youtube pelos universitários… Penso na palavra “moral”, na expressão “bons costumes”, mas nada disso faz sentido quando se trata da massa revoltada.

São os mesmos que nas baladas se orgulham de ter beijado não sei quantos ou não sei quantas numa única noite, os mesmos que têm cada vez mais liberdade para dormir com seus namorados (as) na casa dos pais, que se reúnem em grupos identificados justamente pela roupa que vestem, que alardeiam a prática do sexo e curam suas consequências com a pílula do dia seguinte. Que contradição é essa? Hipocrisia?

E, mais do que isso, trata-se de jovens estudantes que, na academia, deveriam estar assimilando conteúdo, aprendendo a eliminar o preconceito, a respeitar os outros e usar da criatividade em prol da sociedade. Mas não, eles se aglomeraram para “protestar” contra a minissaia da colega. Me impressiona mais ainda o desprezo expressado no diálogo entre duas mulheres cujas vozes soam ao fundo da gravação: “Ela tá chorando gente”, uma delas se solidariza. Enquanto a outra cospe: “Dane-se!”.

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Pernas femininas continuam virando a cabeça deles e delas

Injustificável a postura masculina diante do episódio, já que vivemos num mundo machista, apesar de quererem nos convencer de que as coisas estão mudando, porém imperdoável para as mulheres. Porque não a solidariedade? Porque não a proteção? Porque não a identificação? Por acaso aquelas meninas se sentiram ameaçadas no seu território? A jovem de vestido curto é uma ameaça para seus namorados, amantes, maridos, ficantes? Questão complexa, essa, até porque as escolas têm se transformado em verdadeiros desfiles de moda. Atualmente, meninas, adolescentes e jovens se arrumam para a escola como se estivessem indo pra uma festa, visando alcançar objetivos nada acadêmicos.

Este episódio reflete, a meu ver, uma crise de valores pela qual passa a sociedade contemporânea. Não já disseram que o direito de um termina onde começa o direito do outro? O que a jovem do ABC fez de tão ofensivo à alma e à conduta dos demais estudantes da Uniban? O que os estudantes da Uniban queriam fazer com essa moça, ao tentar invadir em massa a sala de aula em que ela se refugiara?

A contemporaneidade exige comportamentos e posturas diferentes, as coisas andam muito mais flexíveis, ainda que muito à beira do precipício do exagero. Só que não é possível voltarmos ao tempo da barbárie, do tacape e dos puxões de cabelo. Porque um vestido curto foi associado à prostituição? O que há de diferente nessa moça das top modelos das passarelas que mostram seus corpos, das atrizes que fazem cenas de sexo na novela das 19h e das meninas que saem à noite vestidas para matar o primeiro incauto que aparecer?

Chocante a atitude dos alunos, homens e mulheres, surpreendente a posição do segurança da faculdade: “Mas também que roupa curta, hein?”, disse irônico e desrespeitoso após ser chamado para proteger a aluna da turba desenbestada. Enfim, todo esse episódio me cheira àqueles comentários absurdos e neanderthais que, não raro, alguns fazem ao saber de notícias de estupro. “Ah, mas ela deu lugar, né? Com aquele vestido provocante, queria o quê? Nenhum homem aguenta…”. Mary Quant não poderia imaginar que sua invenção fosse alvo de tamanho ódio e rejeição tanto tempo depois.


amar6Ah, se as coisas fossem tão fáceis assim… Fico me lembrando daquela clássica coleção de figurinhas Amar…é, coqueluche das pré-adolescentes nos anos 80. Frases muito simples definiam o sentimento que todos os seres humanos procuram ao longo da vida de uma forma ou de outra. Seja amor de mãe, de homem, de mulher, de filho, de amigos ou de quem quer que seja, amar e ser amado é uma busca instintiva de qualquer pessoa. Mas não é fácil. Ou melhor, fácil é, o complicado é manter a relação viva e a salvo de problemas e desentendimentos.

Naquelas figurinhas do Amar é… cansei de ler frases do tipo “amar é… escutar sempre o que ela tem a dizer”, “amar é… ser romântico”, “amar é… se sentir bem ao lado do outro”, “amar é… entregar seu coração”, “amar é… ser capaz de se divertir com pouco”. Simples, assim. Mas entre algumas linhas de umas figurinhas e a vida real vai uma longa distância. Na prática, fazer um relacionamento amoroso funcionar dá muito trabalho, principalmente se a comunicação e o diálogo falham com frequência.

Para amar, acredito que as duas pessoas têm que estar dispostas a entender uma à outra e compreender suas esquisitices. Quem consegue isso sem esforço, com certeza é exceção, definitivamente tirou a sorte grande. É difícil demais. Lá dentro de cada um, fervilha um universo de sensações e emoções das quais o outro quase sempre não tem a menor ideia. As mínimas e, à primeira vista, mais banais atitudes podem comprometer toda uma história de maneira irreversível.

Quem nunca se surpreendeu no meio de uma discussão que não sabia direito porque tinha começado e mesmo assim continuou e chegou a níveis de irritação e agressividade desnecessários? Todo casal passa por isso, dizem os psicólogos que é algo natural. Mas como manejar isso no dia a dia? Tentar explicar também pode ser uma emenda mal feita e fonte de más interpretações. Abrir o coração nem sempre é o suficiente se o outro também não está disposto a isso. Um relacionamento a dois é uma verdadeira ciência.

amar2Não é a tôa que nesta nossa contemporaneidade cada vez mais pessoas estejam sozinhas. Sofrem por estarem sós e reclamam que não existem homens nem mulheres dispostos a encarar um relacionamento sério. Para mim, parece óbvio, afinal de contas, é muito mais complicado conviver. Mais fácil é substituir a peça ou o parceiro (a) que vive dando defeito. Me parece que esta é a base de tanta solidão. Homens e mulheres estão muito mais disponíveis para os encontros rápidos, exatamente aqueles que acabam antes dos problemas começarem. Para quê se preocupar? Daqui a pouco, ali na esquina aparece outro (a) para colocar no lugar.

O que muitas mulheres e muitos homens não percebem é que a rotatividade impede a intimidade, o conhecimento do outro, a construção da confiança e a possibilidade de parceria que se instala a partir deste exercício diário que é amar. Muitos podem achar perda de tempo se dedicar a uma história. Mas, a depender de quem está ali do lado, o investimento é bastante recompensador. Mas difícil, difícil mesmo, é encontrar o ponto exato. Até onde ir antes de se perceber que uma história está falida? Como perceber o fim? Quando é preciso desistir? Essas respostas a gente não encontra nas figurinhas…

Quem é esta mulher que virou alvo da revista feminina?

A mulher da revista é independente mas continua tendo que agradar seu homem

Sempre tive por perto várias revistas femininas diferentes, com as mais variadas linhas editoriais. A depender da publicação, é claro que toda regra tem sua exceção, muito raramente encontro coisas interessantes nelas. Acabo lendo algumas matérias como que movida por uma curiosidade antropológica, a fim de descobrir qual o grande achado da vez. A decepção é recorrente. Estas revistas não mudam. E explico.

Minha relação com este tipo de publicação começou pela famosa Capricho, nos anos 80, bem tardiamente. Devia ter lá pelos meus 19 anos. Enquanto as meninas da escola já tinham suas enormes coleções, eu estava comprando a minha primeira. Até gostava, mas não entendia o motivo daquela paixão toda por aquele conjunto de folhas coloridas e cheias de fofuritchas para adolescentes.

Em primeiro lugar, como acontece até hoje, eu não me via naquelas revistas. Meu cabelo não estava lá, minha cor de pele não estava lá, meu nariz não estava lá, meu corpo não estava lá, minha origem não estava lá. Comecei a entender o motivo de tanta identificação das coleguinhas de classe. O tempo foi passando e eu abandonei a Capricho, cansei dela, não me atendia mais. Cresci.

Mudei de foco, de publicação, mas minhas características continuavam a não ser retratadas. Mantive minha postura crítica mas dei uma chance a elas me voltando para as matérias mais consistentes, históricas ou comportamentais. Só que aí também há problemas. Por trás de todo aquele verniz de revista voltada para a mulher moderna, a meu ver, todas elas reforçam o estereótipo da mulher que faz de tudo, mas tudo mesmo, para agradar o homem.

Se não, vejamos. As matérias sobre sexo são o exemplo mais notório. O foco do prazer é o homem. Ali, em várias páginas, a mulher é orientada sobre como ter a melhor performance na cama com seu par. Como fazer um bom sexo oral “para levar seu amor às alturas”, que lingerie usar porque “seu homem vai amar”, como se manter magra “os homens que gostam de gordinhas são exceções”.

No trabalho, no cuidado dos filhos, a linha é a mesma. Nenhuma delas se arvora a incitar a mulher a virar a mesa da tripla, quádrupla ou quíntupla jornada do trabalho – “a mulher hoje tem que equilibrar diversas funções, então já me acostumei com a culpa de ter que ficar menos com os filhos”. O homem é aquele que é chamado a “ajudar” nas tarefas ao invés de ser estimulado a “compartilhar” as atividades. É aquele ser a quem se deve prestar todas as homenagens. Grávida? De mal humor? Cheia de hormônios enlouquecendo o juízo? “Se esforce para não deixar a chama do casamento apagar”.

Então, onde está a modernidade? Que mulher é essa que as revistas querem incutir na mente de todas nós? A super mulher maravilha? A que faz de tudo no trabalho, em casa, na cama, na família, exerce múltiplas funções, mas não pode mesmo esquecer de servir ao maridão que, afinal de contas, é a razão e objetivo de vida de todas as mulheres… Será mesmo?

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Eram 3h20 da manhã, dia 23 de outubro. Mais uma noite de insônia e cá estou eu com minhas preocupações. Puxa vida, amanhã, digo, daqui a pouco, tenho que levantar para me arrumar e seguir para o trabalho. Pego no batente às 7h, o que significa que preciso sair de casa às 6h30, o que quer dizer que me restam poucas horas de sono, isso se ele chegar.

Pego algumas das minhas inseparáveis revistas para folhear a fim de atrair o sono e vejo pela milésima vez aquela coluna de aconselhamento sentimental que tem toda revista, por assim dizer, “feminina” (o motivo das aspas, explicarei em um próximo post). Uma reclama do pênis do namorado, outra do parceiro que viaja nas férias sempre sozinho… e todas mantém aquela postura de vítima a que todos os consultórios sentimentais de araque relegam a mulher.

Ou ela se adequa ao comportamento do homem ou ela imita o comportamento do macho. Daí me vejo no meio termo e me dou conta de que tendo a ser uma mulher à moda antiga. Volta e meia esse pensamento me vem à mente e muitas vezes é como se estivesse fora da sintonia do que se entende como a mulher da contemporaneidade, em termos de comportamento, claro. Foi daí que surgiu a ideia de criar este blog. Da vontade de escrever sobre costumes, comportamentos, atitudes, escolhas, atividades que, percebo claramente, norteiam a mulher da minha geração.

Quero falar de mim mesma e do que observo nas mulheres ao meu redor, das coisas que penso e das reflexões que acumulo diante das contradições apresentadas pelo choque de comportamentos e princípios. Não é a tôa que me pego o tempo todo comparando minhas ações com as de mulheres de uma geração seguinte à minha. Natural que seja assim. Acontece o mesmo com amigas minhas, logicamente, aquelas que não estão lutando para se adequar a um modelo que parece mais moderno, mas que quase sempre faz sofrer à noite, no quentinho do travesseiro.